Alcochete recebeu terceira conferência dos 20 Anos da SIMARSUL

 

No Fórum Cultural em Alcochete, realizou-se no dia 21 de maio a terceira sessão do  “Ciclo de Conferências dos 20 Anos da SIMARSUL" dedicada à temática “Impactos nos Ecossistemas e Atividades do Tejo” e que contou na sessão de abertura com a  intervenção do Presidente da Câmara Municipal de Alcochete, Fernando Pinto e do Presidente do Concelho de Administração da SIMARSUL, Francisco Narciso.

A mesa-redonda “Perspetivas do Passado ao Futuro” foi moderada por Leonor Amaral - Professora Associada da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa - na qualidade de personalidade que tem acompanhado de forma mais próxima a história da SIMARSUL e que se pretendeu reconhecer publicamente o seu contributo para o percurso da empresa -  e contou com os seguintes parceiros: Pedro Lavrado, Vereador da Câmara Municipal de Alcochete; Susana Fernandes, Administradora da Região Hidrográfica do Tejo e Oeste da Agência Portuguesa do Ambiente; Helena Pinheiro de Azevedo,  Presidente da Comissão Diretiva Portugal 2030; Nuno Banza, Presidente do Conselho Diretivo do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas; Hugo Pereira, Vice-Presidente do Conselho de Administração da Águas do Tejo Atlântico; Ramiro Neves, Professor Catedrático do Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa e Mário Carmo, Biólogo e Consultor em Biodiversidade e Ecossistemas e Gestor de Capital, que contribuíram com as suas perspetivas para a temática, seguindo-se as considerações do relator convidado, o Diretor do Jornal O Setubalense - Diário da Região, Francisco Rito.

Na abertura da sessão, Fernando Pinto, Presidente da Câmara Municipal de Alcochete, sublinhou que o percurso de 20 anos da SIMARSUL contribuiu para melhorar as vivências da comunidade, através da melhoria das condições de saneamento. O autarca recordou que apesar do que tem sido feito, no concelho ainda há algumas localidades com situações por resolver.

Fernando Pinto, referiu que, a anunciada vinda do novo Aeroporto de Lisboa para Alcochete, vai ser importante para o país e uma alavanca para atrair o investimento para o Distrito de Setúbal. O edil alertou para a necessidade de serem cumpridas as questões ambientais assim como a segurança das pessoas e bens, salientou que a população de Alcochete, devido à distância, não vai ter problemas de ruídos.

Na sua intervenção o edil, em relação ao futuro, expressou as suas preocupações com os feitos das alterações climáticas, assim como, a apanha das ameijoas nipónicas no Tejo, quer pelos seus efeitos ambientais, na saúde pública, condições de trabalho e vivências sociais que resultam da atividade ilegal dos mariscadores. Defendeu a necessidade de preservar a biodiversidade do Rio Tejo.

 

Realidade ambiental do Rio Tejo um caso de estudo internacional

Após a intervenção de saudação e abertura foi projetado um vídeo, o qual espelhou os efeitos de 20 anos de trabalho desenvolvido, em torno do Estuário do Tejo, o maior estuário da Europa, uma área de 34 Hectares, que envolve mais de 2,8 milhões de habitantes. Recordou-se que nos finais do século XX a biodiversidade do estuário estava em risco, devido aos efeitos da poluição e descargas das águas residuais.

Na atualidade, fruto de um investimento de 680 milhões de euros, existe um sistema de saneamento robusto e, a realidade ambiental do Rio Tejo, é considerado um caso de estudo ao nível internacional.

 

“Sou do tempo que Lisboa não tinha estação de tratamento”

No início da mesa-redonda,  Leonor Amaral, Professora Associada da FCT, começou por recordar, “sou do tempo que Lisboa não tinha estação de tratamento” e, nos dias de hoje, pelo envolvimento das Águas de Portugal, da SIMARSUL e o envolvimento das autarquias, a realidade é diferente, de tal forma que orgulha, quem desenvolveu este trabalho cujo resultado foi melhorias para o ecossistema e para a qualidade de águas do Tejo.

 

Saneamento é fundamental para a saúde pública

Pedro Lavrado, Vereador da Câmara Municipal de Alcochete, recordou a situação existente nas águas do Tejo, há vinte anos atrás e as mudanças que se registaram, tendo sido a acção da SIMARSUL fundamental na melhoria da qualidade das águas, nomeadamente nas duas praias fluviais do concelho, que apesar de ainda não existirem condições para serem zonas balneares, são frequentadas por centenas de pessoas, registando-se melhoria na qualidade da água. O autarca salientou que o saneamento é fundamental para a saúde pública, e, a autarquia tem vindo a aumentar a rede de saneamento, mas ainda existem zonas onde é preciso avançar, disse.

 

Estado Ecológico do Tejo classificado num nível “razoável”

Maria Helena Alves, da Agência Portuguesa do Ambiente, salientou que a Lei Quadro da Água, estabelecida pela Diretiva Europeia de 2000, “trouxe mudanças de paradigma”, para se atingir qualidade da água, dos recursos hídricos e do ecossistema. Acrescentou que o Pacto Ecológico Europeu de 2023 veio dar mais garantias para que seja assegurada a qualidade da água. Na sua intervenção, referiu a implementação do Plano de Gestão da Região Hidrográfica, e, divulgou que pela monitorização que tem  vindo a ser concretizada, pela Agência, o Estado Ecológico do Tejo, pode ser classificado num nível “razoável”, o seu estado químico é “bom”, e, são cumpridas as normas da qualidade microbiológica.

 

Há uma nova relação da comunidade com o rio Tejo

Nuno Banza, Presidente do Conselho Diretivo do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, divulgou a experiência que o ICNF tem vindo a desenvolver com a finalidade de proteger e preservar os Roazes do Rio Sado – Golfinhos residentes que são uma população única no país – “um cartão de visita de Setúbal”. Sublinhou que este é um grupo vulnerável, uma espécie que é um bom indicador ecológico. Nuno Banza, sublinhou que não há nenhuma diferença significativa entre o estuário do Sado, em relação ao estuário do Tejo, em ambos os casos, referiu que o essencial é garantir, nos estuários, o equilíbrio entre os diferentes interesses em presença – atividade industrial, turismo, agricultura – e, podendo coexistirem este conjunto de atividades. Nuno Banza salientou que, nos dias de hoje, há uma nova relação da comunidade com o Rio Tejo, estamos a caminhar para o equilíbrio temos é que evitar que haja uma inversão no caminho, disse. Veja aqui o video do ICNF sobre o trabalho com os golfinhos-roazes.

 

Tejo sente-se os feitos do “milagre português” ao nível do saneamento

Hugo Pereira, das Águas do Tejo Atlântico, referiu que tem sido feito um importante investimento quer na margem sul, quer na margem norte do Rio Tejo, existindo uma rede de ETAR - Estações de Tratamento de Águas Residuais. Recordou que nos anos 80 os pescadores do Tejo, viram desaparecer diversas espécies, como a corvina e o choco, hoje, no Tejo, sentem-se os feitos do “milagre português ao nível do saneamento”, e, essas espécies são de novo capturadas. Recordou que, no ano 2009, Lisboa ainda não tinha tratamento de águas residuais. Foi o trabalho de parceria das Águas do Tejo Atlântico e da SIMARSUL, em parceria com os municípios, que contribuiu para que o sector seja um orgulho para Portugal e para quem trabalha nesta área do saneamento, afirmou.

 

SIMARSUL teve um programa de investimentos ambicioso

Helena Pinheiro de Azevedo, Presidente da Comissão Diretiva do Programa  Portugal 2030, recordou a importância dos fundos europeus, quer no Portugal 2030, quer os fundos de coesão, que foram essenciais para realizar investimentos que resolveram  problemas das populações. Acrescentou que para além dos fundos comunitários, também existiu um esforço ao nível nacional. No caso SIMARSUL, que, disse, teve um programa de investimentos ambicioso, fruto da capacidade técnica das suas equipas, realizou investimentos que rondaram os 110 milhões de euros, sendo 77 milhões da União Europeia.

Helena Azevedo, sublinhou que onde foram aplicados mais fundos europeus foi na área de saneamento, 400 milhões no país, sendo 233 milhões de fundos comunitários.

 

Tejo “estuário mesotrófico” com coluna de água sustentada

Ramiro Neves, Professor Catedrático, do Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa, divulgou diversos dados sobre os estudos realizados, no estuário do Tejo, sobre a importância da hidrodinâmica na poluição e o papel da modelação, de forma a usar este recurso de forma eficiente. Salientou que a modelação ecológica permite conhecer que o Tejo, tem um “estuário mesotrófico”, significando que a sua coluna de água sustentada, esta modelação permite obter uma visão da realidade das bacias hidrográficas. Na sua intervenção alertou para a importância, no futuro, quer da inteligência artificial, quer dos  “gêmeos digitais” no tratamento de informação, na área do ambiente e saneamento.

 

Potenciar o capital da natureza, no plano social, ambiental e económico

A finalizar as intervenções dos participantes da mesa redonda, Mário Carmo, Biólogo, Consultor em Biodiversidade e Ecossistemas e Gestor de Capital Natural, explicou a necessidade e o projeto de se implementar com a SIMARSUL  um sistema de avaliação que contribua para um conhecimento da evolução da qualidade do ecosistema. Na sua opinião este é o caminho para um gestor do eco-sistema potenciar o capital da natureza, no plano social, ambiental e económico. Salientou que devido ao trabalho que tem vindo a ser realizado pela SIMARSUL o ecossistema está melhor. Mário Carmo salientou que o investimento na paisagem, gera um ecosistema mais saudável, tem retorno económico, social e de lazer.

 

Após as intervenções seguiu-se um período de esclarecimentos, tendo sido colocadas diversas perguntas, quer preocupações sobre o impacto do novo aeroporto de Lisboa em Alcochete, quer sobre a necessidade de serem concretizados investimentos de manutenção ou renovação em ETAR que, em alguns casos aproximam-se no fim do seu tempo de vida. Sobre esta última questão, Francisco Narciso, Presidente da SIMARSUL, esclareceu que mesmo sem apoios de fundos europeus têm sido realizadas intervenções de manutenção.

Francisco Rito, Diretor do Jornal O Setubalense-Diário da Região, relator convidado apresentou as linhas gerais das intervenções.

 

SIMARSUL tem uma história que contribuiu para alterar o património ambiental

Francisco Narciso Presidente do Conselho de Administração, encerrou a sessão, sublinhando que os 20 anos da SIMARSUL, foram vinte anos a fazer futuro, um trabalho que contou com uma equipa dedicada e com a ligação a um conjunto de parceiros, com destaque para as autarquias, “um vasto trabalho conjunto”, parcerias que, disse, são indispensáveis para continuar a fazer futuro. Recordou que em 2009, foi concretizado o tratamento da rede de saneamento da Baixa de Lisboa, em 2019, foi concretizada a ligação da rede de saneamento de um Parque Empresarial da margem sul – “este é um processo contínuo”, disse, sublinhando que “a despoluição do estuário do Tejo é hoje “uma referência mundial”. Francisco Narciso, reafirmou que a SIMARSUL tem uma história que contribuiu para alterar o património ambiental, as pessoas sentem as diferenças, e, acrescentou que, no futuro, ainda há muito por fazer, nomeadamente a reutilização da água tratada nas ETAR, um desafio e uma necessidade perante as alterações climáticas, que, disse, é do “interesse de todos”.

 

Reportagem completa, sobre a intervenção de Francisco Narciso pode ser vista  aqui.

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